Ex-Presidente Joaquim Chissano apela à preservação da paz


Maputo - O antigo Presidente moçambicano Joaquim Chissano defendeu, sábado, que o país deve “sempre cultivar a paz”, perante contextos como o actual, caracterizado pelas manifestações lideradas pela oposição contra os resultados das eleições autárquicas de 11 de Outubro.
"É preciso sempre cultivar a paz” para se evitar que o país volte a ter guerra, devido a uma crise eleitoral, disse Chissano, citado pela Lusa. O antigo Chefe de Estado (1986-2005) falava à margem da reunião anual da AISEC, uma organização global juvenil, que prepara jovens para funções de liderança.
Questionado sobre se o repúdio do principal partido na oposição aos resultados das eleições autárquicas pode levar o país a mais um conflito armado, Joaquim Chissano sublinhou que é preciso que Moçambique esteja preparado para se evitar este cenário. "O conflito sempre se gere, é preciso estarmos preparados para gerirmos os nossos conflitos”, avançou.
Apontou o diálogo e a solidariedade como formas de impedir a eclosão da violência, assinalando a importância de incutir nos jovens a cultura de paz. "O diálogo é a arma principal para mantermos a paz”, frisou.
Os jovens que se manifestam contra os resultados do referido escrutínio, disse, estão a exercer o seu direito, enfatizando, para tal, a necessidade de cumprimento da lei e do não recurso à violência. "É direito deles fazerem manifestações”, e "não estou a favor nem contra”, sublinhou.
No discurso feito na reunião anual da Associação Internacional de Estudantes de Economia e Ciências Comerciais, em Maputo, o ex-estadista salientou a importância da criação de oportunidades para a capitalização do potencial dos jovens, mas desafiou esta camada a ser criativa e inovadora para que o seu destino não seja ditado pelos outros.
"Claro que podemos dizer cuidado aí, porque também já tentámos fazer isso e deu errado, mas não somos nós a dizer a iniciativa” que deve ser implementada pelos jovens, referiu.
As ruas de algumas cidades moçambicanas, incluindo Maputo, têm sido tomadas por consecutivas manifestações da oposição apelidadas como de "repúdio” à "fraude” no processo envolvendo as eleições autárquicas de 11 de Outubro e os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que atribuiu a vitória à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder) em 64 das 65 autarquias do país, e que têm sido criticados pelos partidos na oposição.
A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que nas anteriores 53 autarquias (12 novas autarquias foram criadas este ano) liderava em oito, ficou sem qualquer município, apesar de reclamar vitória nas maiores cidades do país, citando as actas e editais originais das assembleias de voto.
A Renamo recorreu ao Conselho Constitucional, última instância de recurso no processo eleitoral.