Coligação PAI-Terra Ranka responsabiliza regime político pelo tráfico de droga
Bissau - A Plataforma de Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka) classificou de acção criminosa a aterragem de um avião, no Aeroporto Internacional de Bissau, com dois mil 663 quilogramas de cocaína e aponta o envolvimento de altas figuras do poder instituído no tráfico de drogas.
Num comunicado divulgado esta terça-feira, a coligação liderada pelo PAIGC e vencedora das eleições legislativas de 2023 exige “a realização de um inquérito internacional independente, com o apoio da Agência dos Estados Unidos de Combate à Droga (DEA) e de outras agências de combate ao narcotráfico” para esclarecer cabalmente os contornos do sobrevoo e aterragem de aeronave no país.
A coligação exige também o “afastamento imediato de todos os elementos da Presidência da República que, a 07 de Setembro, usurparam as competências legais da Polícia Judiciária e assumiram a coordenação dos trabalhos” relacionados com a aeronave apreendida com grande quantidade de droga.
A nota diz que "é do conhecimento público que o tráfico de drogas, envolvendo altas figuras da hierarquia do Estado, tem sido uma prática recorrente no regime de Umaro Sissoco Embaló", e refere "relatos credíveis" que indicam que "voos suspeitos carregados de drogas têm aterrado frequentemente no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, supostamente com a conivência de elementos da Presidência da República”.
“Para além desta, também poderíamos falar de cargas desconhecidas que o Presidente Umaro Sissoco Embaló transportou aquando da sua visita ao Gabão, no voo da companhia gabonesa; poderíamos falar das nomeações que, quando assumiu a pasta de Ministro do Interior, fez catapultar a lugares de chefia da Guarda Nacional e Policia de Intervenção rápida, indivíduos suspeitos, detidos, indiciados e julgados por crimes de tráfico de estupefacientes, assaltos à mão armada, mas que a fragilidade e a corrupção que grassa nos nossos tribunais têm protegido”, aponta o comunicado da coligação PAI-Terra Ranka.
A coligação afirma que “desde que o actual Presidente assumiu o poder, em 2020, o desaparecimento de suspeitos e condenados por tráfico de drogas tornou-se recorrente”, e lembrou “os casos das operações conhecidas como "Carapau" e "Navara", durante o mandato do PAIGC, em que os detidos foram levados à justiça, julgados e condenados".
Recorda que "com a ascensão de Umaro Sissoco Embaló ao poder, todos foram libertados ou fugiram do país de maneira misteriosa”.
Adianta que a “aterragem e decolagem de aviões privados no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira só é possível com o conhecimento e a devida autorização das autoridades governamentais”, sublinhando que "num pais onde as autoridades nomeadas e empossadas por Umaro Sissoco Embaló exercem controlo absoluto do espaço aeroportuário", o tráfico de drogas "tornou-se um dos principais factores de instabilidade politica na Guiné-Bissau, minando o tecido social guineense e prejudicando enormemente a imagem externa do pais”.
De acordo com a coligação, a "presença frequente de pessoas ligadas à Segurança e ao Gabinete do Presidente da República no aeroporto, durante a chegada desses voos privados, é uma prova irrefutável da ligação dessas instituições ao tráfico de drogas" e convidaram o chefe de Estado, "a assumir a responsabilidade pelas nomeações que faz para cargos governamentais e jurisdicionais".
Exige ainda “a incineração imediata das drogas apreendidas na presença dos parceiros, conforme tem ocorrido em operações anteriores [Carapau e Navara]”, e exorta ao Governo e à Presidência da República “a absterem-se de qualquer tipo de interferência politica no processo de investigação e apuramento de responsabilidades”.
No último sábado, a Polícia Judiciária apreendeu dois mil 663 quilogramas de cocaína a bordo de uma aeronave Gulfstream IV, com bandeira e registo no México e proveniente da Venezuela.
Os cinco tripulantes, sendo dois mexicanos, um equatoriano, um colombiano e um brasileiro, foram detidos em flagrante e tiveram a prisão preventiva decretada terça-feira última.
Na "Operação Landing", as autoridades guineenses tiveram a cooperação da Agência dos Estados Unidos para o combate à droga e do Centro de Operações contra Narcótico e Análise Marítima.