HERóIS
Amílcar Cabral completaria hoje 100 anos e seus sonhos estão por cumprir
12/09/2024 16h00
Praia - O líder da luta pela Independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, Amílcar Cabral, faria, esta quinta-feira (12) 100 anos, tendo o secretário-geral da ONU, António Guterres destacado o seu prestígio universal.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres disse que "o prestígio universal de Amílcar Cabral deve-se ainda, e em grande parte, a riqueza e profundidade da sua produção intelectual e as suas reflexões continuam ainda hoje a inspirar estudiosos em diversos domínios do conhecimento, bem como mulheres e homens das letras e das artes.", afirmou numa mensagem de vídeo exibido na abertura de um Simpósio Internacional sobre Amílcar Cabral, a decorrer em Cabo Verde.
Por seu lado, o Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, disse que Amílcar Cabral é "um património da humanidade", e que a sua influência vai para além das fronteiras das ilhas. "Ele é tão grande que extravasa as fronteiras de África. Não faz sentido limitá-lo a partidos ou nações."
Amílcar Cabral, natural da Guiné-Bissau, é considerado por historiadores, estudiosos e políticos uma das mais maiores figuras do nacionalismo africano, tendo liderado a luta no campo militar, diplomático e ideológico, até ser morto por um dos seus guarda-costas, a 20 de Janeiro de 1973, em Conakri (Guiné), num mistério que ainda continua por se desvendar completamente.
Nos seus muitos escritos, Amílcar Cabral redigiu vários objectivos para o desenvolvimento e o bem-estar dos povos guineense e cabo-verdiano.
Engenheiro agrónomo de formação, Amílcar Cabral vislumbrava a agricultura como um ponto fulcral para o desenvolvimento económico e para a emancipação política e social.
Defendia que, o fomento da educação e da agricultura eram as bases da reconstrução dos países, depois do período colonial, e, nos seus escritos, já manifestava preocupação com o impacto das alterações climáticas nos países.
O fundador do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) foi recebido pelo Papa Paulo VI, no Vaticano, em 1970, conjuntamente com Agostinho Neto, do MPLA (Angola) e Marcelino dos Santos, da Frelimo (Moçambique).
As ideias de Amilcar Cabral “são suficientemente generosas, profundas e abrangentes para que não possam ser realizadas por uma única geração”, afirmou Carlos Reis, antigo companheiro de armas do líder da luta pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, numa conversa com a VOA, em 2022.
Carlos Reis, que foi primeiro ministro da Educação de Cabo Verde, entre 1975 e 1981, acredita que “as gerações vindouras vão continuar por esse caminho” que ainda é longo.
"Ainda hoje, um símbolo forte da luta dos povos que ainda sofrem e dos que se consideram espoliados, de qualquer forma, da luta que os pobres, também precisam fazer, assumindo a sua auto-responsabilidade, como Cabral falava, procurando caminhos da paz, do amor ao próximo e da solidariedade”, enfatizou.
Os sonhos de Amílcar Cabra não estarão realizados "enquanto houver pobreza, que atinge a dignidade das pessoas”, salientou.
Lideradas pela Fundação Amílcar Cabral, as celebrações do centenário de Cabral decorrem desde o início de 2024, com inúmeras realizações, entre as quais o simpósio internacional "Amílcar Cabral - um património nacional e universal", que se realiza em Cabo Verde e na Guiné-Bissau.
De recordar que as comemorações do do centenário de Amílcar Cabral foram alvo de polémica e discussão pública em Cabo Verde e na diáspora depois de a Assembleia Nacional de Cabo Verde ter rejeitado o projeto-de-resolução sobre a celebração oficial do centenário de Amílcar Cabral.
Mais tarde, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, prometeu "dignidade e representatividade" nas comemorações do centenário do nascimento de Amílcar Cabral.
A Fundação Amílcar Cabral concretizou ainda uma parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para a inscrição dos escritos de Cabral no arquivo de Memória do Mundo e inclusão da data 12 de Setembro nos aniversários de personalidades apoiados pela UNESCO.
Amílcar Cabral nasceu a 12 de Setembro de 1924, em Bafatá, na Guiné-Bissau, e foi assassinado a 20 de Janeiro de 1973, em Conacri, Guiné.