ELEIçõES

Simões Pereira defende que PR use suas prerrogativas para apaziguar o ambiente político

Domingos Simões Pereira - DR
Domingos Simões PereiraImagem: DR

04/10/2024 11h44

Washington - O presidente do PAIGC e líder da coligação PAI – Terra Ranka, Domingos Simões Pereira, lamenta que o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, não tenha respondido à carta que lje enviou para um encontro entre os dois e a comissão permanente da Assembleia Nacional Popular, com vista a encontrar uma saída para a actual crise política na Guiné-Bissau.

Em entrevista à Voz da América, Domingos Simões Pereira disse que o Presidente da República tem de usar as suas prerrogativas para apaziguar o ambiente político, tendo reiterado que não cometeu qualquer acto de corrupção na sua gestão como chefe do Governo.

Alertou para o perigo da vacatura na Chefia do Estado, caso a eleição presidencial não se realize antes de 27 de fevereiro do próximo ano, devido à insistência do Presidente da República em não marcar a data das próximas presidenciais.

Ante o que considera de invasão do Parlamento por forças militares, alegadamente a mando do Presidente da República, Domingos Simões Pereira afirmou que apenas o diálogo pode levar ao fim da crise política actual na Guiné-Bissau.

“O caminho só se faz através do diálogo, através da compreensão e do respeito pela ordem constitucional. E é este o apelo que continuamos a reiterar, no sentido de começar pelo Presidente da República, mas passando por todos os órgãos, todos. Claro que isto também passa, em certa medida, pela restauração da Assembleia Nacional Popular e pela garantia de que a sua Comissão Permanente pode cumprir a sua missão”, afirmou o presidente do PAIGC.

Domingos Simões Pereira voltou a alertar que “se continuarmos a atacar as instituições como o Supremo Tribunal, como acontece agora com a Assembleia Nacional Popular e outros órgãos, ficamos mais distantes de qualquer entendimento e de qualquer solução para os problemas que todos enfrentamos".

Questionado se recebeu alguma resposta do Presidente da República, Simões Pereira disse que “não”, o que lamenta porque “no final da reunião da Comissão Permanente, aprovámos novamente um conjunto de medidas, uma das quais pediu ao Presidente da República um encontro em que eu far-me-ia acompanhar dos líderes dos outros partidos que estão representados na Assembleia”.

Para o presidente do Parlamento dissolvido, há dois caminhos para se ultrapassar a situação actual,  nomeadamente o Presidente convocar uma reunião do Conselho de Estado e permitir que todos os seus membros estejam presentes ou receber o presidente da Assembleia Nacional Popular acompanhado pelos diferentes dirigentes dos partidos representados na Assembleia.

Quanto às eleições, Domingos Simões Pereira continua a insistir que “devem ser presidenciais, porque o prazo exige que elas aconteçam, e são as eleições que podem eventualmente clarificar a situação política interna”.

Com o prazo de 90 dias para convocar eleições legislativas, depois de o Chefe de Estado ter dissolvido o Parlamento, ultrapassado desde março, Simões Pereira admite que “o mínimo que esperamos que aconteça é que tanto as eleições legislativas como as presidenciais sejam agora marcadas”.

Numa recente conferência de imprensa, o líder do Parlamento dissolvido defendeu o seu posicionamento em relação ao caso dos seis mil milhões CFA, que esteve na origem dos desenvolvimentos alegados por Umaro Sissoco Embaló, para dissolver a Assembleia Nacional, revelando que daquele total 4,2 mil milhões foram para um conselheiro presidencial e para um empresário próximo do Chefe de Estado.

Perante estas revelações e face ao que disseram os advogados do PAIGC, de que o ressurgimento destes casos visam afastá-lo da candidatura presidencial, Domingos Simões Pereira garante que não admite ficar de fora, mas reconhece que “é um temor que acompanha praticamente todos os guineenses, toda a gente está preocupada com isso”.

O líder da coligação PAI – Terra Ranka afirmou que “é tempo de se pedir ao Presidente que utilize da melhor forma outras prerrogativas que o auxiliam, para apaziguarmos o ambiente político vigente, porque é importante que Umaro Sissoco Embaló compreenda que em democracia o importante é que as pessoas falem e que possam, de facto, encontrar soluções”.

“Se as eleições não forem marcadas de forma deliberada e nos aproximarmos do fim do mandato, estamos a provocar uma vacatura que obviamente não contribui para o apaziguamento do ambiente. Não estou a prever nenhum quadro de crise, um quadro de conflito, estou a dizer que isso é uma disposição da nossa Constituição e da nossa lei eleitoral e o Presidente está a fazer um mau trabalho ao não marcar eleições, antes do final do seu mandato, para evitar uma disputa completamente dispensável”, salientou.

Na entrevista, o presidente de PAIGC abordou o posicionamento da comunidade internacional, admitiu que poderá concorrer à Presidência se o seu partido e a coligação o indicar e que no final do seu mandato à frente do partido tomará uma posição sobre o seu futuro.

A Voz da América contactou a Presidência da República para comentar, mas uma fonte do gabinete presidencial disse desconhecer se Umaro Sissoco Embaló vai reagir.

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