Presidente moçambicano convida candidatos para dialogar
Maputo - O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, convidou os quatro candidatos presidenciais das eleições de 09 de Outubro último para um diálogo aberto e prometeu usar a sua “energia para pacificar o país".
Numa mensagem ao país, esta terça-feira, Filipe Nyusi lamentou as manifestações violentas, tendo revelado que as mesmas já causaram 19 mortos e 807 feridos, e pediu às Forças de Defesa e Segurança que façam recurso à força apenas “em situações extremas para defender vidas e a economia nacional”.
“Precisamos dos candidatos, precisamos e convido os candidatos a aceitarem o encontro para o benefício dos moçambicanos”, pediu Filipe Nyusi, sublinhando que “estamos a tempo de promover o diálogo e prometo usar toda a minha energia para pacificar o país e, para termos sucesso, precisamos de todos os moçambicanos, precisamos de estar juntos”.
O Presidente acrescentou que todos os moçambicanos “precisam de se unir para acabar com a situação que pode levar o país a uma anarquia”.
"Ninguém, em nome de qualquer causa, pode impedir um cidadão de ir trabalhar para garantir o sustento das suas famílias" ou "impedir o funcionamento dos serviços públicos, dos hospitais, das escolas, dos mercados e dos transportes públicos", afirmou Filipe Nyusi, adiantando que se registaram, depois das eleições, mais de 200 manifestações, que provocaram 807 feridos e 19 mortos.
"Estes dados dizem respeito à consequência indirecta da onda de violência. Mas, os tumultos provocaram danos directos nas pessoas”, acrescentou, lamentando “a perda da vida de 19 concidadãos, cinco dos quais membros da PRM (Polícia da República de Moçambique)”.
O Chefe de Estado moçambicano afirmou ainda que "em paralelo, ocorreram actos de sabotagem contra antenas de telefones móveis e postos de energia”, e perguntou “para onde vamos?".
Sem se referir às muitas acusações de personalidades, cidadãos comuns e organizações não governamentais, inclusive internacionais, contra a actuação das forças de defesa e segurança, especialmente a polícia, Filipe Nyusi sublinhou que as mesmas "devem continuar a servir o seu povo”, mas sublinhou que “o recurso ao uso da força deve ser apenas em situações extremas para defender vidas e a economia nacional”.
“Não queremos que ocorram situações de que todos sairemos a perder", enfatizou o Presidente, que também apelou a que “os mais jovens, adolescentes e crianças não sejam mais usados para disputas que se devem resolver nas instituições, nos momentos próprios".
Na sua longa intervenção, o Presidente referiu-se aos efeitos das manifestações no atendimento nos estabelecimentos hospitalares, onde houve uma redução de 60 por cento dos profissionais de saúde, de 60 por cento no número de pacientes atendidos nos serviços de urgência, de pediatria e de adultos, e de 54 por cento em doações de sangue, além de seis mil e 500 crianças que perderam ou adiaram a vacinação.
Até ao momento, Ossufo Momade, da Renamo, Venâncio Mondlane, apoiado pelo Podemos, Lutero Simango, do MDM, e Daniel Chapo, da Frelimo, reagiram ao convite do Chefe de Estado.
Entretanto, Venâncio Mondlane convocou três dias de protestos, a partir desta quarta-feira, exortando para "parar todas as viaturas e buzinar em homenagem aos nossos heróis", em referência às vítimas mortais resultantes dos protestos.
Para os que não têm viatura, adiantou, "nos três dias, das 12h00 às 12h15, levantem cartazes, da reposição da verdade eleitoral, nos semáforos, no meio das ruas, como se fossem sinaleiros".
O pedido foi feito numa comunicação numa rede social, em que ele apelou ao "luto nacional pelos mártires da revolução das panelas".
"Três dias de luto nacional (...) Não é de qualquer maneira que morrem 50 pessoas e a sociedade fica impávida e serena", continuou, anunciando ainda que "a nossa manifestação vai ser estar de preto, bater panelas, levantar cartazes".
Refira-se que a Procuradoria-Geral da República (PGR) entregou, esta segunda-feira, ao Tribunal Provincial da Cidade de Maputo, uma acção cível em que exige a Venâncio Mondlane e ao presidente do Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) o pagamento de 32 milhões de meticais (cerca de 500 mil dólares) por alegados danos patrimoniais provocados pelas manifestações que tomaram conta de várias cidades do país, após as eleições de 09 de Outubro.