Investimento da Exim Bank na Moçambique LNG gera tensão política nos EUA


Washington - O anúncio de um financiamento de cerca de 4,7 mil milhões de dólares por parte do Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos (US Exim Bank) ao projecto de gás natural liquefeito (LNG) em Moçambique reacendeu um aceso debate em Washington relativamente às prioridades energéticas do país e ao papel dos investimentos no estrangeiro.
O empreendimento, situado na província de Cabo Delgado, no Norte do País, prevê uma capacidade anual de produção de 12,88 milhões de toneladas de LNG.
Trata-se de uma das maiores iniciativas energéticas em África, com ampla participação internacional e potencial estratégico no abastecimento global de energia.
Contudo, a decisão de apoiar financeiramente o projecto moçambicano tem sido vigorosamente contestada por diversas figuras do espectro político conservador norte-americano, que acusam a Administração de comprometer os interesses energéticos internos em favor de operações no exterior.
Entre os opositores destaca-se Rick Perry, antigo secretário da Energia dos Estados Unidos, o qual condenou a medida por considerar que esta põe em causa a doutrina do “America First”, segundo o jornal Fox Business.
Segundo Perry, cada molécula de gás extraída em Moçambique constitui concorrência directa ao LNG norte-americano, sobretudo em mercados estratégicos como os da Europa e da Ásia.
As críticas incidem particularmente sobre o contraste com projectos nacionais, como o Alaska LNG, que, embora preveja uma produção superior — na ordem das 20 milhões de toneladas por ano —, enfrenta dificuldades no acesso a financiamento e licenciamento.
Para além das considerações económicas, a instabilidade na região de Cabo Delgado continua a suscitar apreensões. Desde 2017, o norte de Moçambique tem sido alvo de ataques por grupos insurgentes, o que levou à suspensão temporária do projecto em 2021.
Embora a presença de forças militares do Rwanda tenha contribuído para alguma estabilização, o contexto de segurança permanece incerto.
Vozes como a de Steve Forbes, presidente da Forbes Media, e a de Jamieson Greer, antigo representante comercial dos EUA, alertam para os riscos associados a investimentos em zonas geopolítica e logisticamente vulneráveis, defendendo uma aposta mais firme em projectos domésticos.
O apoio ao LNG moçambicano reacendeu igualmente críticas à missão do US Exim Bank. Charlie Kirk, activista conservador e fundador do movimento Turning Point USA, apelou a uma revisão da actuação da entidade, tendo mesmo sugerido a sua dissolução.
Kirk defende que “o dinheiro dos contribuintes norte-americanos não deve financiar empresas estrangeiras a operar fora do país”.
Este episódio revela uma crescente divisão interna quanto ao posicionamento estratégico dos Estados Unidos no sector energético: por um lado, a necessidade de garantir influência global e diversificar fontes de energia; por outro, o imperativo de proteger a produção nacional e assegurar a independência energética a partir de recursos próprios.
A imprensa internacional comenta que a tensão instalada reflecte, pois, não apenas uma disputa política, mas uma profunda clivagem sobre o rumo que os Estados Unidos deverão seguir no equilíbrio entre segurança energética, influência geopolítica e responsabilidade fiscal.