Conversas com Mell

Conversas com Mell


PUBLICIDADE

Maternidade solo: desafios, superação e a força da comunidade

Maternidade solo: uma jornada marcada por desafios, mas também força e superação
Maternidade solo: uma jornada marcada por desafios, mas também força e superação Imagens: Pexels

Mell Chaves

Publicado às 16h19 03/10/2023 - Actualizado às 17h23 03/10/2023

Oi gente boa,

o nosso programa, “Conversas Com Mell”, já está no ar! Que felicidade a minha poder estar ainda mais pertinho de todas (e todos, porque sei que também há homens) que me acompanham nesta jornada de partilha e aprendizagem, seja no digital ou na TV...e muito mais está por vir! Como vos tinha dito, por aqui irei abordar temas relacionados ao programa (o caso de hoje) e outros que achar interessantes.

Hoje vamos conversar sobre um tema que toca o coração de muitas mulheres: a maternidade solo. Esta que é uma jornada marcada por desafios, mas também por uma força inabalável que brota de dentro de nós. E começo até por compartilhar com vocês a minha própria trajectória, pois durante seis anos também fui mãe solo.

Quem me acompanha há mais tempo sabe que a minha filha mais velha é fruto de uma relação que tive, que durou cerca de 13 anos e terminou porque o amor acabou, simples assim. Separei-me quando ela tinha três anos e percebi na altura a forma pejorativa como eram vistas as mães solo em certos meios. O desafio de gerir uma vida profissional em crescimento, longe da família nuclear e a aprender a ser um dois em um na criação/educação da minha filha.

Confesso que houve vezes em que pensei voltar para perto da família que vive fora de Angola. Mas esta baixinha que vos escreve é dura na queda e fui gerindo. Sempre que precisei pedi apoio, desde à família, ao pai, aos amigos, funcionárias e seguimos firmes e também constatei a importância da independência financeira para as mulheres.

A história de amor, um dia conto em detalhe. Em 2015, de uma amizade nasceu um bonito amor, que recebeu desde o início a minha filha como dele e hoje já estamos casados e a família aumentou, com um filho depois dos 40 (que dá para outro artigo também)!

Deixo-vos com algumas reflexões minhas que senti necessidade de partilhar.

As diversas faces da maternidade solo
A maternidade solo pode nascer de diversas circunstâncias. Às vezes, é uma escolha consciente, como por exemplo a inseminação, adopção e produção independente. Outras vezes, por uma situação que nos é imposta por reviravoltas inesperadas na vida, como separação, falecimento ou abandono do parceiro. Seja como for, o que constato é que cada uma de nós (na sua maioria) enfrenta essa jornada com uma resiliência admirável.

O peso dos julgamentos sociais
Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade que, por vezes, emite julgamentos sobre a maternidade solo. É importante lembrar que cada caminho é único e merece respeito. Ninguém mais do que nós mesmas sabemos o que é melhor para nossos filhos, as razões pela decisão ou imposição da situação em que vivemos. Já recebi mensagens de mulheres que sofrem violência doméstica e as famílias insistem para que se mantenham nos relacionamentos, pois uma mulher larga com filhos está destinada ao fracasso. Inacreditável que ainda se pense assim!

Mães solo dentro de relacionamentos desapoiados
Outra realidade dolorosa é a das mulheres que enfrentam a maternidade solo mesmo dentro de um casamento, onde o apoio do parceiro é mínimo. É essencial lembrar que a parceria e o apoio mútuo são alicerces de uma família saudável e equilibrada. Considero que, ao se constituir uma família, é fundamental a união do casal no cuidado, educação e criação dos seus filhos.

A importância da rede de apoio e do pedido de ajuda
Nenhuma de nós está sozinha nessa jornada. Ter uma rede de apoio é como ter um abraço caloroso quando mais precisamos. Família, amigos, a quem devemos recorrer. Sim, sei que por vezes esses também falham e são ausentes. Há também os grupos de apoio e profissionais de saúde que estão prontos para fornecer o suporte emocional e prático que necessitamos (para quem ao ler está a dizer e dinheiro para pagar, leiam até ao final). Lembre-se, pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas sim de coragem e sabedoria. É um ato de amor-próprio e de cuidado para com o bem-estar de nossos filhos.

A maternidade na cultura africana: uma lição de equidade
Na cultura africana, a maternidade é vivida de forma profundamente conectada à educação e à proximidade com os filhos pelas mulheres e os homens são vistos como provedores financeiros. As mulheres são criadas e educadas para servir e cuidar do lar, filhos e maridos. Entendo e respeito a cultura, mas também considero que um homem não perderá a sua “macheza” por contribuir nas tarefas do lar ou cuidar dos filhos, principalmente no mundo actual, onde ambos trabalham fora.

Acredito que a equidade em todas as responsabilidades, quer de educação, financeiras ou de gestão do lar e dos filhos, irá contribuir para uma maior harmonia, relação de amor e respeito entre o casal e na passagem de valores como respeito e igualdade aos filhos. E calma, o objectivo não é acabar com a família tradicional que conhecemos, mas tornar as relações mais harmoniosas e duradouras nessa nova dinâmica em que todos vivemos.

Educação para o futuro: respeito, autonomia e apoio incondicional
Educar as novas gerações é o pilar para um mundo mais harmonioso. Ensinar a respeitar e apoiar nossos parceiros, independentemente do género, é semear um futuro mais igualitário e empático. Ensinar a ambos sobre serem autónomos, a trabalharem a auto-estima, amor próprio, a respeitarem as diferenças e escolhas. Ensinar em particular as meninas sobre a importância da formação e da independência financeira, dando mais autonomia. Muitas mulheres sujeitam-se a certos comportamentos dos parceiros pela dependência financeira. Nada como poder suprir as necessidades com o fruto do nosso trabalho, sem depender de ninguém.

Sororidade: o poder da comunidade
Sejamos mulheres que apoiam e protegem as outras mulheres. Não sejamos herdeiras das dores e sofrimento daquelas que nos antecederam e sim mulheres que quebram ciclos de dor e criam outras narrativas. Vamos abraçar mais e deixar de apontar defeitos e erros, julgando e excluindo mulheres. Vamos passar boas mensagens e ensinamentos para que essa caminhada seja menos atribulada. A maternidade solo é uma jornada de desafios, superações e, acima de tudo, de amor incondicional. Vamos lembrar umas às outras que somos verdadeiras guerreiras, capazes de enfrentar o que a vida nos oferece com graça e determinação.

Sejamos como as abelhas que se unem na criação das suas colmeias em prol da sua comunidade.

Beijinhos!

Mell

PUBLICIDADE