Viver com o que se tem: a filosofia da resiliência
A existência humana é um eterno questionamento, apesar da ciência tentar encontrar, com algum sucesso, algumas respostas para o que se viveu, se vive ou será vivido. Ainda assim, as realidades subjectivas e objectivas impõem ao ser humano a necessidade de viver com que se tem. Crises econômicas, problemas sociais e desastres ambientais parecem estar sempre à espreita. Por isso, optar por uma filosofia de vida resiliente tornou-se essencial.
Viver com o que se tem não significa conformismo. Ao contrário, trata-se de uma abordagem activa, reactiva e consciente de viver, de enfrentar adversidades e de alcançar objectivos e cumprir agendas individuais ou colectivas apesar das barreiras impostas pelo ambiente em que vivemos.
O filósofo contemporâneo Clóvis de Barros Filho tem abordado essa questão de maneira profunda e acessível. Este pensador enfatiza nos nossos dias a importância de viver plenamente com o que se tem, sem deixar que as limitações externas impeçam o crescimento pessoal e a realização de sonhos. Para ele, a filosofia é a arte de viver bem, e viver bem implica aceitar as circunstâncias sem, no entanto, deixar de buscar a superação e a melhoria contínua.
Resiliência social
Os actos resilientes podem ser vistos diariamente nas comunidades ou bairros periféricos onde não existem muitos recursos. Nessas áreas, as pessoas desenvolvem mecanismos de apoio mútuo e inovação para enfrentar desafios. Em muitos bairros, por exemplo, vemos iniciativas de comércio comunitário e redes de solidariedade que ajudam a melhorar a qualidade de vida dos seus moradores.
Clóvis de Barros Filho frequentemente lembra que "a felicidade não está no acúmulo, mas na maneira como lidamos com aquilo que temos". Essa perspectiva é fundamental para compreender como a resiliência pode transformar vidas mesmo em contextos adversos. A aceitação das condições presentes, aliada a uma vontade firme de melhorar, é o que permite a indivíduos e comunidades se adaptarem e prosperarem.
Resiliência económica
A filosofia da resiliência nos ensina a viver de forma sustentável e prudente, a ser camaleão humano sem perder a essência individual e o propósito de vida. A crise financeira global de 2008, por exemplo, mostrou ao mundo a importância de práticas financeiras responsáveis e da necessidade de poupar e investir de forma consciente. Hoje, vemos um movimento crescente em direcção à economia circular, em que o desperdício é minimizado, os recursos materiais são reutilizados de maneira eficiente e o capital humano é valorizado e considerado o activo mais importante de uma organização.
As organizações que escolhem essa filosofia não apenas sobrevivem, mas muitas vezes prosperam, criam modelos de negócios inovadores e sustentáveis. A resiliência económica também se reflecte na capacidade de indivíduos e famílias se adaptarem a mudanças económicas, como a perda de emprego ou a queda de renda, encontrando novas formas de gerar renda e reduzir despesas de maneira criativa.
Resiliência ambiental
No âmbito ambiental, viver com que se tem é muito importante. O meio ambiente sempre dá sinal dos excessos cometidos pelos humanos na gestão da casa comum (planeta). O aquecimento global e a degradação ambiental são desafios que exigem uma resposta resiliente. A filosofia de viver com o que se tem nos leva a práticas mais sustentáveis, como a redução do consumo de recursos naturais, o uso de energias renováveis e a proteção da biodiversidade.
Viver bem com o que se tem é uma arte que exige sabedoria, coragem e criatividade. Não admite comparações nem desejos ilícitos de coisas alheias, é sempre daqui para frente com os recursos disponíveis no momento, no lugar e com as pessoas livremente interessadas a somar para o sucesso individual ou colectivo.