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José Luís Mendonça debate o poder do Jornalismo Cultural

José Luís Mendonça
José Luís Mendonça Imagens: DR

José Luís Mendonça

Publicado às 10h33 11/10/2024 - Actualizado às 10h33 11/10/2024

Luanda - O Poder Aglutinador do Jornalismo Cultural esteve em debate num seminário ministrado pelo jornalista e escritor José Luís Mendonça, quarta-feira última, no auditório do Centro de Formação de Jornalistas (CEFOJOR).

José Luís Mendonça defendeu que o jornalismo cultural é uma porta aberta ao humanismo, porque a comunicação intercultural mediática possibilita o debate e a discussão contraditória do fenómeno cultural angolano e universal.

O seminário abriu com uma pergunta provocatória do prelector: “Alguém aqui neste encontro fala alguma língua não-oficial?”, à qual responderam apenas cinco participantes.

O jornalista conduziu os participantes a uma viagem no tempo, para os levar à compreensão do fenómeno do esquecimento das línguas pré-coloniais.

As terras conquistadas à força pelos Portugueses passaram a ser chamadas e reconhecidas nos mapas e documentos oficiais da época como "Terras do Ngola", depois como "Terras d'Angola", e desde então a colónia portuguesa passou a chamar-se simplesmente "Angola".

Estava assim iniciado, através de uma sinédoque, o processo semiótico secular de fundação da Angola.

Os angolanos não têm uma língua bantu unificadora. A unidade nacional está forjada sobre o legado da colonização, a língua portuguesa.

O nome do país é uma criação da língua portuguesa. Esta realidade, comum à maioria dos Estados Africanos ao Sul do Sara preocupa o linguista gabonês Bruno Okoudowa, para quem “O resultado é o risco de desaparecimento ou extinção de várias línguas africanas nativas e pré-coloniais em detrimento das línguas coloniais e neocoloniais”.

Esta preocupação de Okoudowa suscitou outra questão do facilitador: “Porque é que a música ocidental se está a afirmar como hegemónica a partir da capital (Luanda), levando ao esquecimento e ao silenciamento outras produções musicais em línguas africanas?”

Desafios

Para José Luís Mendonça “O maior desafio do jornalismo cultural em Angola é o da comunicação intercultural – a comunicação entre povos com sistemas culturais (ou sub-sistemas) diferentes – como forma de promover a Unidade Nacional e o intercâmbio etno-linguístico do país”.

A sociedade angolana de hoje é caracterizada pelo multiculturalismo. O sentimento de pertença etno-linguístico faz de cada um dos angolanos um ser inscrito numa cultura específica. Como encontrar o outro?

O prelector realçou que Luanda é, incontornavelmente, o espaço central da angolanidade: os agentes culturais do interior são praticamente invisíveis; a auto-realização do homem de cultura passa pela sua visibilidade na capital.

Neste quesito se situa o grande desafio da cobertura mediática em Angola, não só cultural, como forma de promover a Unidade Nacional. “É aqui onde reside o poder catalisador do Jornalismo Cultural angolano, visto que interculturalidade é o fenómeno social, cultural e comunicativo em que duas ou mais culturas representantes de diferentes identidades culturais específicas, interagem em condições de igualdade, sem que nenhum ponto de vista prevaleça sobre os outros ou seja considerado “normal”.

Esse tipo de relação favorece o diálogo e a compreensão, a integração e o enriquecimento das culturas”, defendeu o jornalista e escritor.

Outro grande desafio do jornalismo cultural reside na Comunicação Transcultural, ou o reencontro com a África.

José Luís Mendonça socorreu-se da Carta do Renascimento Cultural Africano, proclamada pela antiga OUA, em 2006, que convoca, no seu Artigo 31º os Estados africanos a “comprometer-se a garantir que os valores culturais africanos sejam divulgados, a fim de promover e consolidar o sentido de identidade entre os africanos”.

É com a aceitação e superação destes desafios que o Jornalismo Cultural cumprirá o seu papel aglutinador e abrirá a porta ao Humanismo, promovendo o espaço e o tempo actual de encontrar o outro, na diferença etno-linguística.

O orientador do seminário propôs a formação profissional e auto-didáctica do jornalista cultural assente na aquisição de cultura geral e sua actualização permanente, com leituras várias para um domínio da norma culta da língua oficial.

A cultura geral inclui conhecimentos sobre HISTÓRIA (geral da África; Angola e Universal); GEOGRAFIA; LÍNGUA(s); breves noções sobre Literatura, Música, Artes Plásticas, Cinema, Dança, Teatro e Escultura, suas tendências e correntes históricas; Estética e Comunicação e a Semiologia do Jornalismo Cultural.

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