INVESTIMENTO
Ministro das Relações Exteriores representa Angola na conferência China-África
02/09/2024 12h47
Luanda - O ministro das Relações Exteriores, Téte António, encontra-se, desde domingo, em Beijing, para representar o Presidente da República, João Lourenço, na nona Conferência de Cooperação China-África (FOCAC-9), a decorrer de 02 a 07 do corrente mês.
A conferência existe como um mecanismo de consulta e diálogo colectivo, entre a China e o continente africano, na perspectiva de um futuro da cooperação entre as partes, em busca de um desenvolvimento comum.
O FOCAC é um fórum que acontece na China ou num país africano em alternância e foi criado em Outubro de 2000, com vista a fortalecer a cooperação económica e as relações comerciais sino-africanas, para estabelecer uma nova ordem internacional que melhor reflicta as necessidades e os interesses da China e de África.
O evento acontece a cada três anos, e já se realizou em Beijing (2000), Addis Abeba (2003), Beijing (2006), Sharm El-Sheik (2009), Beijing (2012), Joanesburgo (2015) e Beijing (2018).
Analistas contactados pela Lusa estimam que o próximo Fórum de Cooperação China-África será marcado pelo reforço do “alinhamento político” entre Beijing e o continente africano e por uma maior clareza em relação à iniciativa chinesa de segurança global.
Cinquenta e quatro representantes africanos, incluindo numerosos chefes de Estado e de Governo, assim como largas centenas de ministros sectoriais são esperados esta semana em Beijing.
“Há mais presidentes africanos a participar no FOCAC do que na Assembleia Geral da ONU, que é a maior cimeira do mundo. O FOCAC é o ponto mais importante do calendário diplomático de África”, sublinha Paul Nantulya, investigador do Africa Center for Strategic Studies (ACSS), especialista nas relações África-China.
Apesar das numerosas representações de alto nível e do reforço do prestígio deste FOCAC, em relação ao anterior, Jana de Kluiver, investigadora do Institute for Strategic Studies (ISS), em Pretória, prevê que esta primeira conferência pós-Covid 19 não será marcada pelo aumento da dimensão do investimento anunciado.
Em primeiro lugar, refere, porque a China está consciente do problema da dívida em África e da forma como a situação se apresenta a nível internacional, e depois, porque se espera este ano um maior envolvimento do sector privado, o que “coloca uma maior ênfase na rentabilidade dos projectos, o que implica projectos mais pequenos, com um retorno mais rápido”.
Em contrapartida, Kluiver acredita que se irá assistir ao anúncio do investimento em projectos de energias renováveis e no aumento de projectos relacionados com o "Crescimento Verde", assim mais investimento tecnológico, em alinhamento com os objectivos internos da China.
Um e outro analista apontam também a importância que deverão assumir as três grandes iniciativas anunciadas pelo Presidente chinês, Xi Jiping, já depois do último FOCAC de 2021, a saber, Iniciativa de Segurança Global (ISG), Iniciativa de Desenvolvimento Global (IDG) e Iniciativa de Civilização Global (ICG).
“Um elemento importante que sairá deste FOCAC é o alinhamento político”, sublinha Nantulya. “A China está a procurar um alinhamento político mais forte com os países africanos, como parte da sua estratégia para o Sul Global, que vê como uma espécie de contrapeso ao que chama o sistema internacional dominado pelo Ocidente”, acrescenta o investigador.
Nantulya sublinha que os países africanos têm vindo a reclamar uma reforma do sistema multilateral, que inclua, nomeadamente, uma representação permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, mas a China “não tem sido muito clara na sua posição” sobre este tema.
A estas exigências por parte dos países africanos, a China tem respondido com a promessa ajudar a “ampliar a sua influência e os seus interesses a nível internacional, por exemplo, defendendo os pedidos de mais financiamento para o desenvolvimento”, acrescenta o investigador.
“A China está a criar muitas organizações internacionais, muitas das quais são paralelas a organizações internacionais existentes, como o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas, de que muitos países africanos são membros, ou o novo Banco de Desenvolvimento, que funciona no âmbito dos BRICS, e outras organizações de que os países africanos fazem parte”, ilustrou ainda.
“África não tem uma posição comum em relação à China, nem em relação a qualquer actor externo. Há certas orientações continentais que seriam altamente positivas, se os países e os seus compromissos bilaterais com a China pudessem ter em mente o quadro mais vasto do desenvolvimento do continente”, diz Kluiver.
“Mas não existe uma agenda definida ou uma abordagem comum, o que prejudica os países africanos, em termos do seu poder de negociação”, acrescentou.
A China dispõe de muitos recursos, especificamente em termos de desenvolvimento da conectividade, tecnologias de informação e comunicação, recursos humanos, bem como de financiamento de projectos, mas, para que pudesse realmente ser aproveitado, seria preciso que os países africanos alcançassem um “nível de coordenação” mínimo, que lhes permitisse, por exemplo, articular de forma eficaz grandes projectos como o Acordo de Comércio Livre Continental Africano e a iniciativa chinesa "Uma Faixa, Uma Rota", sublinha a analista sul-africana.
É fundamental, sublinha Kluiver, que “exista um nível de concordância” entre os países africanos, que “garanta que estes grandes projectos estão alinhados, porque é importante desenvolver projectos de infra-estruturas regionais que, em última análise, promovam o comércio intra-africano e não se limitem a reforçar as cadeias de valor e as ligações com, por exemplo, a China ou qualquer potência externa”.