ELEIçõES
Opositor político venezuelano deixa Caracas e exila-se em Espanha
09/09/2024 07h30
Caracas - O político venezuelano Edmundo González Urrutia, que a oposição diz ter vencido as presidenciais de 28 de Julho último, deixou, na noite de sábado, a Venezuela em direcção a Espanha, anunciou a vice-presidente do país, Delcy Rodríguez.
“Hoje, 07 de Setembro, deixou o país o cidadão opositor Edmundo González Urrutia, que, tendo-se refugiado voluntariamente na embaixada do Reino de Espanha, em Caracas, desde há vários dias, solicitou perante este governo a tramitação de asilo político", anunciou Rodríguez na rede social Instagram.
A responsável explicou que, "após os contactos pertinentes entre ambos os governos, cumpridas as diligências necessárias e, em conformidade com o Direito internacional, a Venezuela concedeu os salvo-condutos necessários, no interesse da paz e da tranquilidade política do país".
"Esta conduta reafirma o respeito pelo Direito que tem prevalecido nas acções da República Bolivariana da Venezuela perante a comunidade internacional", sublinhou, precisando que, nas próximas horas, dará mais informações.
Entretanto, numa mensagem divulgada na rede social X (antigo Twitter), o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, confirmou a viagem para Espanha.
O opositor Edmundo González Urrutia, rival de Nicolás Maduro nas questionadas eleições de 28 de Julho, disse que seguirá lutando pela “liberdade” da Venezuela no exílio, após chegar neste domingo (8) à Espanha, onde receberá asilo político.
“Confio que em breve continuaremos a luta para alcançar a liberdade e a recuperação da democracia na Venezuela”, afirmou o diplomata de 75 anos, que reivindica vitória nas eleições, em um áudio de 41 segundos divulgado por sua equipa de imprensa.
O avião da Força Aérea Espanhola que transportou González e a sua esposa, pousou na base Torrejón de Ardoz, perto de Madrid, pouco depois das 16h00 locais (11h00 de Brasília), informou o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.
“A partir de agora, começarão os trâmites para o pedido de asilo, cuja resolução será favorável com base no compromisso da Espanha com os direitos políticos e a integridade física de todos os venezuelanos e venezuelanas, especialmente dos líderes políticos”, acrescenta a nota.
A líder da oposição, María Corina Machado, afirmou que a saída da Venezuela do candidato, que como ela estava na clandestinidade há quase um mês, foi necessária para “preservar sua liberdade e sua vida”, em meio a uma “brutal onda de repressão”.
O chefe da diplomacia espanhola, José Manuel Albares, disse que o procedimento de asilo responde à solicitação pessoal de González e que “não houve nenhum tipo de negociação política entre o governo da Espanha e o governo da Venezuela”.
“A Espanha nunca dará as costas, nem abandonará, Edmundo González ou qualquer venezuelano”, acrescentou em uma declaração à televisão pública na China, onde inicia uma visita oficial com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.
Sánchez já havia se pronunciado em termos similares no sábado, quando chamou González Urrutia de “herói”, durante uma reunião do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) em Madrid, algumas horas antes do anúncio do exílio do opositor venezuelano.
Saída da Venezuela de González Urrutia
A saída da Venezuela de González Urrutia acontece em meio a uma crise iniciada com as eleições presidenciais, em que Maduro foi oficialmente reeleito para um terceiro mandato de seis anos, apesar das denúncias de fraude apresentadas pela oposição.
“Hoje é um dia triste para a democracia na Venezuela”, afirmou o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, em um comunicado, no qual destaca que “na democracia, nenhum líder político deveria ser forçado a buscar asilo em outro país”.
“A UE insiste que as autoridades venezuelanas acabem com a repressão, as detenções arbitrárias e o assédio contra membros da oposição e da sociedade civil, assim como libertem todos os presos políticos”, acrescenta a nota.
González, que estava escondido desde 30 de Julho, passou um período na embaixada da Holanda em Caracas, antes de seguir para a embaixada da Espanha, a 05 de Setembro, explicou Borrell.
Um tribunal com jurisdição para casos de terrorismo ordenou a detenção de Urrutia, a 2 de Setembro, por investigações de crimes que incluem desobediência às leis, conspiração, usurpação de funções e sabotagem, depois de não ter comparecido a três citações judiciais.
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, disse que a partida de González Urrutia representa o fim de “comédia”.
“Eu diria que termina a breve temporada de uma peça humorística, de um gênero que eu poderia dizer de comédia, de teatro bufão, que começou neste ano de 2024 e que foi chamada de maneira fatídica de ‘Até o final'”, ironizou Saab, em referência a um slogan de campanha da oposição.
Os Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina rejeitaram o resultado anunciado pelo CNE e pediram uma verificação dos votos.
A proclamação da vitória de Maduro, com 52% dos votos, desencadeou protestos em todo o país que deixaram 27 mortos, 192 feridos e dois mil 400 detidos.