Venezuela rompe relações diplomáticas e comerciais com a Espanha
Caracas - A Assembleia Nacional da Venezuela aprovou um acordo solicitando ao presidente Nicolás Maduro o rompimento das relações diplomáticas, consulares e comerciais com o Reino de Espanha.
A medida foi uma resposta à decisão do Congresso dos Deputados da Espanha de reconhecer Edmundo González, líder da oposição venezuelana, como vencedor das eleições presidenciais de 28 de Julho, contestadas pelo governo venezuelano.
O acordo foi proposto pelo deputado Pedro Infante, do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), e aprovado após o apoio do presidente da Assembleia, Jorge Rodríguez.
Num discurso antes da votação, Rodríguez criticou a interferência externa nos assuntos venezuelanos: “A paciência tem um limite. A Espanha não interfere nos assuntos internos da Venezuela, nem a União Europeia, nem o governo de Espanha”, afirmou.
A ruptura ocorre na sequência da crescente tensão político-diplomática entre os dois países.
A votação no Congresso espanhol foi promovida por partidos de oposição de extrema direita, como o Partido Popular e o Vox, que pressionam por uma posição mais dura contra o governo de Maduro, mas o governo espanhol ainda não formalizou o reconhecimento de González.
Edmundo González tem o apoio de observadores internacionais, em especial norte-americanos, que alegam que ele teria obtido a maioria dos votos.
Investigação contra González e exílio na Espanha
Edmundo González, ex-diplomata e aliado de María Corina Machado, fugiu para a Espanha após a emissão de um mandado de prisão contra ele por “usurpação de funções” após a publicação de actas eleitorais não reconhecidas pelo governo venezuelano.
Essas actas, segundo a oposição, demonstram que González teria vencido a eleição com cerca de 70% dos votos. O governo, no entanto, afirma que grande parte dos documentos divulgados pela oposição foram falsificados, e o Ministério Público venezuelano abriu uma investigação contra o líder opositor.
Retaliação comercial e fim das relações diplomáticas
Como parte da retaliação, a Assembleia Nacional venezuelana também aprovou o fim de “todas as actividades comerciais das empresas espanholas”, em seu território, como resposta ao que consideraram como “o abuso mais brutal da Espanha contra a Venezuela desde os tempos coloniais”. Entre as empresas afectadas estão grandes conglomerados com presença na Venezuela, o que pode gerar impactos econômicos significativos para ambos os países.
Jorge Rodríguez, que presidiu a sessão da Assembleia, afirmou que a resposta venezuelana é necessária para proteger a soberania nacional e evitar qualquer tipo de intervenção estrangeira. “A Venezuela é um país soberano, que tem os seus problemas, mas também tem as suas próprias instituições”, disse, criticando o apoio da Espanha à oposição venezuelana.