Ubuntu - uma filosofia de vida em prol da união dos africanos
Ubuntu é uma filosofia de vida africana que nos convida à união. O termo surge das línguas Zulu e Xhosa, na África do Sul, e o seu slogan traz-nos a melhor compreensão do seu significado.
"Eu sou, porque tu és" mostra-nos que a nossa vivência está intrinsecamente ligada à dos outros, que a nossa dor e a nossa alegria são as mesmas. No Ubuntu não existe "eu" sem "nós", a salvação é colectiva. Na visão do Ubuntu, quem está a ajudar o outro está a ajudar-se a si mesmo, pois o "molimo" (espírito) que sustenta o Ubuntu leva-nos a compreender que o respeito não se resume apenas aos humanos, mas também a natureza.
Não é fácil praticar o Ubuntu numa sociedade corrompida pela ambição, competição, pela fome do ego, mas impossível não é, desde que se comece a praticá-lo. Olhando para a história, o conceito de Ubuntu também esteve presente na luta contra o Apartheid (sistema de segregação racial na África do Sul), por meio de nomes como o do antigo Presidente da África do Sul, Nelson Mandela, que explicou o Ubuntu por meio das seguintes palavras: respeito, cortesia, compartilhamento, comunidade, generosidade, confiança e desprendimento.
Uma palavra pode ter muitos significados. Tudo isso é o espírito do Ubuntu. Ubuntu não significa que as pessoas não devam cuidar de si próprias. A questão é: você vai fazer isso de maneira a desenvolver a sua comunidade, permitindo que ela melhore? Aqui, as falas de Mandela espelham novamente a visão de união proposta pelo Ubuntu.
Venerando os ancestrais, nossa humanidade está ligada à dos nossos semelhantes e a tudo o que a natureza nos ofereceu. Para melhor compreensão disso, olhemos para a máxima Zulu, que diz "umuntu ngumuntu ngabantu (uma pessoa é uma pessoa, através de outras pessoas). Quem vive do Ubuntu, mesmo depois de morto, continuará vivo no coração daqueles que ainda não morreram.
Ensinamentos ancestrais
O Ubuntu pode e deve ser utilizado nas diversas esferas das sociedades. Eu trago-o como uma ferramenta essencial também para a política, pois é aqui que se define o futuro das nações.
O Ubuntu esteve presente na luta contra a escravidão e contra a colonização e foi crucial para a independência dos povos africanos, assim como para a criação da Organização de Unidade Africana (OUA), hoje União Africana (UA), e deve continuar para que se rompam as barreiras da Conferência de Berlim e seja possível a esperada moeda única africana.
Na visão política, o Ubuntu deve fazer parte de qualquer tomada de decisão, em que o povo não seja visto como os outros, e sim como o político que toma a decisão por meio das leis. Pois, uma sociedade que vive os preceitos do Ubuntu tem mais harmonia e coesão, é mais próspera e consegue gerir, de forma mais amena, os seus conflitos internos.
Olhemos para os ensinamentos ancestrais, eles têm tudo o que precisamos. Olhemos com o terceiro olho existente na glândula pineal, olhemos com "bolingo" (amor próprio), olhemos sem os olhos vendados pelo eurocentrismo, pois os ensinamentos ancestrais servem de direcção e protecção para continuarmos a existir como povos. Ubuntu é nosso, é cultura e deve ser vivido. Tal como dizia o activista Marcus Garvey "um povo que não conhece a sua história, origem e cultura é como uma árvore sem raízes".
E, se depois de toda esta explicação, o conceito de Ubuntu ainda não lhe for esclarecedor, com certeza a história a seguir deixará tudo compreensível. Um belo dia, um viajante decidiu estudar os costumes de uma aldeia africana. Como estava sempre rodeado pelas crianças da aldeia, decidiu inventar um jogo para elas. O viajante encheu uma cesta com doces, enfeitou-a com fitas coloridas e colocou-a debaixo de uma árvore.
Depois explicou às crianças quais eram as regras do jogo. Todas tinham de alinhar-se e, ao grito de 'agora!", tinham de correr até a árvore para apanhar a cesta e a primeira criança a chegar ficaria com toda a cesta de doces.
Quando o viajante gritou "agora!", as crianças deram-se as mãos e começaram a correr todas juntas. Como chegaram ao mesmo tempo, sentaram-se embaixo da árvore e repartiram os doces da cesta entre elas. O viajante então perguntou: “Por que correram todas juntas? Se não o tivessem feito, uma de vocês ficaria com todos os doces". As crianças responderam: “Ubuntu! Como poderia uma de nós ficar feliz vendo que as outras estavam tristes?”